segunda-feira, 28 de junho de 2010

Bionetes III

Ricardo andava apressado abraçado a pasta de documentos como que protegendo um bebê seu. Felipe o seguia como uma sobra. Por vezes ultrapassava-lhe dizendo cochichos aos ouvidos. - Não adianta fugir Doutor, eu já saquei tudo. Vai me contar toda a história!
Ricardo tentava fugir, entrando em corredores estreitos, elevadores, e setores diversos, mas o executivo não lhe dava trégua. Todos por quem passavam estranhavam a cena. Felipe continuava a pedir a Ricardo que parasse, mas o doutor fugia como um filhote de gato do cachorro raivoso. Felipe perdendo a paciência, parou, enquanto via Ricardo distanciar-se, gritou: - Prefere que o Senhor Thing o interrogue, porque eu vou daqui direto pra sala dele!
Não foram mais de três passos que Ricardo deu após a ameaça. Virou-se lentamente de cabeça baixa e ou o olhar derrotado no executivo.

Horas mais tarde, a porta do laboratório se abria devagar, revelando aos poucos o conteúdo ao curioso visitante. Ricardo cambaleante, catou um jaleco do armário próximo a porta que jogou nos braços de Felipe. Este olhava o recinto com olhos de criança que vai a primeira vez a Disneylândia. Máquinas imponente, computadores de última geração. Era para ele um lugar surpreendente e talvez o mais bem equipado que já vira. Apesar de jamais ter entrado em ambiente semelhante, limitando-se, por restrição de acesso às partes administrativas da corporação e sequer imaginar que aquele era um dos laboratórios mais humildes da Biotec. Destinado a pesquisa com Clones pela ausência de resultados. Deleitando-se com as novidades, uma movimentação mais a frente chamou-lhe a atenção. Ao atravessar um pequeno acesso, deparou-se com um homem semi nu, de ótima aparência, jovem e atlético, de olhos fechados, posicionado de cabeça para baixo, apoiado apenas nos braços que juntamente com a cabeça formavam a base que o sustentava.
Ficou ali alguns segundos sem ser percebido, quando finalmente o homem abriu os olhos e levando um susto, gritou e perdeu o equilíbrio. Recuperado em seguida com destreza fazendo com que se posicionasse de pé rapidamente. O grito fez com Ricardo corresse naquela direção. Encontrando os dois homens olhando-se curiosamente. E ambos, buscando explicações viraram-se para o jovem doutor, que tratou de apresentá-los. - Este é Felipe, promissor executivo da Biotec, que veio nos ajudar com um probleminha de prazo. E este Felipe, é o Doutor Estênio.
O homem esbelto, agora trajando um roupão, aproximando-se de Felipe, estendeu e mão em cumprimento e acrescentou. - Imagino que deva estar surpreso! É para mim uma surpresa também vê-lo aqui, visto que temos aqui um projeto sigiloso (lançando um olhar firme sobre Ricardo). Mas suponho que sua presença seja de extrema importância, visto que quem o trás é dos maiores defensores de que este se mantenha no mais absoluto segredo. (retirando-se para outro cômodo) – Com licença, vou trocar-me!
Ricardo, começou a explicar-se ao homem que se retirara, mas Felipe, que paralisara desde a apresentação, soltou a voz num repente: - Você não o Doutor Estênio! Eu conheço o doutor, já o vi diversas vezes nas reuniões. Aliás, não há quem não o conheça no universo biotecnológico, após sua magnífica descoberta!
E levado por Ricardo testemunhou o homem deitar-se numa mesa alta de cirurgia, acoplar a cabeça um estranho aparelho e espelhar vários eletrôdos pelo corpo, em seguida acionar o botão de um painel localizo ao lado da mesa, repousar a cabeça e fechar os olhos.
Logo atrás da mesa, num espaço que não havia reparado, viu um senhor sentado numa poltrona com aparelho semelhante àquele que acabara de ver na cabeça, despertar lentamente. Este senhor, que ele logo reconheceu, retirou o aparelho e, depois de realizar movimentos de alongamento, dirigiu-se ao executivo, falando-lhe. - Agora sim, Estênio Martins, em carne, osso e cabelos brancos. Podem agora me explicar de que prazos são esses?

Aproximadamente três horas e muitas explicações depois...
- Então, o traíra do Thing me deu só três meses. Depois de tudo que o canalha lucrou às minhas custas... Reclamava, sentado a sua poltrona, com o neurotron no colo e um copo de whisky na mão, o Doutor Estênio.
- Talvez possamos rever isso! Lançou Ricardo, tentando passar otimismo ao cientista.
Ao que Ricardo, respondeu irritado. - Sim, se tivermos uma proposta que vá representar cifrões aos cofres da Biotec. Mas para isso precisamos encontrar alguma utilidade para a nova aplicação do neurotron, além de ajudar na yoga e demais atividades rejuvenescedoras que o doutor Estênio esteja experimentando. Outro dia peguei-o dançando balé...
Estênio retrucou. - Ora! Estava testando as capacidades do C3. Você verificou as últimas anotações, ele tem flexibilidade de bailarino, equilíbrio e força impressionantes. Aliás, tudo que imaginávamos sobre as potencialidades dos clones são realidades, conseguimos fazê-los perfeitos! Mais que isso sobre-humanos!
Felipe, interrompendo a explanação do médico, colocou com voz exaltada: - É isso!
Os dois cientistas pararam e prestaram a atenção ao rapaz, esperando a explicação. Felipe continuou: - Qual é o dos maiores desejos das pessoas?
Os doutores arriscaram. Primeiro Ricardo. - Poder?
Felipe balançou a cabeça, negativamente e olhou para Estênio que tentou: - Saúde perfeita?
O executivo tocando os ombros do experiente doutor, acrescentou. - Saúde perfeita, beleza, força, disposição, elas desejam atributos dos jovens. Rejuvenescer. Como foi para o senhor a experiencia de estar novamente num corpo jovem? - Maravilhosa. Atendeu o Doutor Estênio. E continuando. - Mas é temporário, eu não posso ficar no corpo do C3 por mais de seis horas, é arriscado para ambas as partes!
- Mas a experiência já não valeu? E quando valeria ao tetraplégico voltar andar, mesmo que por algumas horas? Imaginem as possibilidades para as pessoas que se encontram em coma.
- Isso nunca foi testado! - corrigiu o Doutor com mais idade.
- Mas podemos tentar! Acudiu o mais novo em favor dos argumentos do executivo. - Imaginem o frisson das peruas idosas milionárias, podendo novamente, ou pela primeira vez, ter a sensação de serem desejadas, e atrair a atenção dos homens? E os coroas impotentes, podendo outra vez satisfazer suas amantes de vinte anos? Gastam-se bilhões com cirurgias plásticas no mundo, substituição de órgãos, tecidos... métodos artificiais que têm prolongado suas vidas até uns duzentos anos. Mas em condições quase que de sobre vida, dietas, limitações diversas, às vezes até ficam até ligados em aparelhos, com restrição de movimentos. A maioria apresenta resultados razoáveis a curto prazo, mas nada se comparado a um corpo lindo e perfeito, novinho em folha! - e com os olhos brilhando continuou - Além disso, imagine poder sair por aí, com outra cara! …
Impostanto a voz e tomando ares de apresentador de comercial de televisão, Ricardo continuou seu devaneio: - Imagine um mundo onde humanos vestem humanos. Um corpo, uma fantasia, um disfarce. Todo dia pode ser o seu carnaval! Você pode tudo! Ser, fazer o que quiser! Com um corpo perfeito, jovem e belo... Imagine!
- Já chega! - Irrompeu num grito severo o Doutor Estênio. - Nunca ouvi tantos absurdos! Acha que minha criação vai servir de máscara para miliários vaidosos e safados realizarem suas fantasias? A isso se resumiria meu invento? Vocês só estão pensando no dinheiro, mas isso pode ser muito perigoso! Não podemos nos apropriar dos corpos dos clones e usá-los como marionetes... É doentio!
- Esse dinheiro pode salvar seus outros projetos... pense nas possibilidades...- Ricardo, tentou convencê-lo, ao que Estênio rebateu. - Não! Isso está fora de questão! Não quero ouvir mais nada! - Disse saindo do laboratório.

sábado, 26 de junho de 2010

Dissidentes do Mundo Invisível II

O Grande e antigo relógio da sala de jantar soava vinte e duas horas quando Amália, indignada, dirigiu-se pela terceira vez ao telefone. E novamente o que ouvia era a secretaria eletrônica. Detestava deixar recados em caixas postais de celular, detestava celulares, aliás, odiava muitas coisas relacionadas a tecnologia. Uma vez tentou aprender a usar o computador, mas acabou encontrando algo que a fez desistir.
Castro, seu marido, costumava deixar alguns relatórios de consultas no computador de casa, fazia por estar seguro de que ninguém os veria. Acreditava que a esposa jamais teria interesse em usar seu computador pessoal, sabendo de sua aversão a tal aparelho. E que mesmo que ela o usasse não se atreveria a ler documentos sabidamente sigilosos, como alertara o marido diversas vezes.
Mas o que o marido de Amália não sabia é que ela dera início a um curso de computação e resolveu fazê-lo às escondidas. Supostamente para fazer uma surpresa aos que duvidavam de sua capacidade para tal aplicação. Mas intimamente temia a pressão familiar. Certo dia ela resolveu usar o computador do marido para praticar exercícios do curso e encontrou os relatórios de consultas de pacientes do marido. Sabia que não devia lê-los, mas acabou cedendo à tentação da curiosidade como uma garotinha que desvenda um segredo proibido.
Procurava por algo intrigante, emocionante. Histórias curiosas de pessoas muito problemáticas... E como quem procura acha, o que Amália encontrou causou-lhe grande espanto. Dentre os relatórios médicos estava o de Luiza, uma paciente de 27 anos. Os relatos de Castro sobre as consultas dessa paciente em especial fascinaram sua esposa. Ela lia sobre coisas que falavam de pesadelos terríveis, com fantasmas, perseguições... Uma pobre mulher perturbada, Amália não tinha dúvida, pois nada lhe fazia sentido. O que lia era nada além de um amontoado de histórias fantasiosas, mas parecidas com um filmes de terror e suspense. Por isso sentia pena de Luiza e por vezes teve vontade de procurá-la,e confortá-la, abraçar essa pobre mulher solitária e doente. Mas foi durante uma de suas leituras secretas aos relatórios da paciente do marido que Amália leu algo que a fez mudar de opinião e desejar quem sabe até sua morte. Castro descrevia em aflito desabafo, sua paixão ardente, contida e secreta pela moça em tratamento.

Resident Evil IV - Parte I

Liz admirava, da sacada, o céu naquela noite singular. Haviam tons de violeta, verdes e cintilantes, com prevalência do fundo preto muito escuro. Podia vê-los dançar algumas vezes, e ria-se sozinha por achar-se infantil e fantasiosa demais.
É a aurora boreal! Disse Michael a abraçando ternamente pelas costas.
Liz repuxou os olhos como se tentasse trazer a tona a memória do significado daquela palavra. Sabia que que a ouvira antes. Michael a ajudou, dentro de seu limitado conhecimento sobre assunto. - É um fenômeno da natureza. O nome foi dado em homenagem à Áurea, a Deusa grega do amanhecer e Bóreas, seu filho, o vento do sul. Liz, aconchegou-se mais para perto do esposo e recostou a cabeça em seu ombro, enquanto admirava o fenômeno. E Michael sentindo-se forte e protetor por orientar a amada, continuou. - Sabia que só pode ser observado dessa parte do planeta? Lembro de ter aprendido na escola que tem haver com vento solar, porque o oxigênio... - Michael, me deixe só admirar! Liz sorriu docemente dando um beijo que calou o pretenso professor. Ficaram ali abraçados por alguns segundo até o soar do alarme de trabalho das dezesseis horas os chamar às obrigações. Olharam-se com resignação, e conformados seguiram para dentro do pequeno apartamento adquirido a pouco tempo e a base de muito sacrifício.
Liz podia não se recordar – e Michael pensava que talvez fosse melhor assim – que antes da terrível praga estavam prestes a possuir um espaçoso e luxuoso triplex no centro de Nova York. A custa de muito trabalho também, ele como médico cirurgião e ela como advogada. Apesar de suas situações terem mudado muito, ele não se atrevia a reclamar, dava graças por ainda estarem vivos, juntos e terem um lugar para chamar de lar.
Coisa que muios havia perdido. Seus lares, seus companheiros, suas famílias, suas vidas. Por um momento, que Michael não se agrada de rememorar, quase perdeu Liz. Ela estava perdida para muitos, mas ele não desistiu dela. Mesmo doente, mesmo transformada pelo vírus que devastou a maior parte dos seres vivos do Planeta, transformando-os em monstros famintos. Ele a manteve presa e conteve seus instintos canibais por meio de amarras e anestésicos fortíssimos pois tinha fé numa cura. E atravessou o continente em busca de um lugar, considerado por alguns uma lenda. Uma comunidade no Alaska que havia se levantado após a catástrofe … Onde pessoas podiam viver em paz livres da doença. E os que haviam sido por ela atingidos encontraram uma cura. Um antídoto, que diziam os boatos, adormecia o monstro e acordava a parte humana da vítima. Para os que haviam sucumbido e involuntariamente se alimentado de carne humana a cura era mais complexa. Demandava mais tempo e recursos e não podia se garantir a recuperação completa. Variava de organismo para organismo. Um dos bem sucedidos processos de retorno ao comportamento humano normal foi o do próprio cientista responsável pelo desenvolvimento da cura. Foi ele quem obteve os primeiros resultados positivos com cobaias humanas. Até ter seu laboratório invadido por uma horda descontrolada de zumbis. Foi afetado e até ser resgatado cometeu muitas atrocidades. Foi perdoado devido ao seu estado. Os que o encontraram, um aequipe enviada pela corporação que custeava suas pesquisas científicas, recuperaram também suas anotações, substâncias e documentos. E graças a isso um time de cientistas pode, partir dos métodos científicos do doutor Normam, chegara cura como hoje se conhece. Ele foi um dos primeiros agraciados e restabeleceu-se em questão de meses, num processo complicado, mas por fim, bem sucedido. Doutor Normam estava de volta, era humano outra vez, e trabalhava para aprimorar o antídoto como chefe do mais importante laborário da Colmeia IV.
Apesar de ser a maior descoberta desde a praga mundial e ter salvado e recuperado milhares de vidas era ainda uma opção temporária. Seu efeito funcionava bem por três meses, variando de acordo com a gravidade, o tempo como zumbi e a quantidade de carne humana consumida. Era preciso injetar novas doses com freqüência, ou corpo a consumiria ou, em alguns casos combateria, e depois disso o estado animalesco podia ressurgir, aniquilando o humano.
A comunidade que Michael encontrara após dois anos de viagem e muitos perigos, levando consigo a noiva contaminada. Era a mais organizada que vira desde a muito tempo, mais estava longe de assemelhar-se a uma sociedade humana normal. Pareciam todos ter voltado a era medieval.
Logo na entrada muralhas gigantescas lhe impediam a passagem. Foi preciso muito tato e sutileza para se aproximar delas. O esquema da segurança era forte. Vinte quilômetros antes de alcançar as muralhas foi recepcionado por robôs que mais pareciam discos voadores que lhe inspecionaram através de raios-x, provavelmente procurando algum traço de ameaça zumbi. Passara pelo primeiro obstáculo com muito receio, pois sabia que se fosse descoberto trazendo consigo uma zumbi seria exterminado. Mas o medo não o fez reclinar. Seguiu a diante. E no posto cinco, um Forte onde se encontravam soldados pesadamente armados, teve seu primeiro contato com humanos sadios após longo período. Do alto de uma plataforma o homem que devia ser o comandante daquela instalação disse ao megafone que saísse do veículo, com as mãos para o alto e andasse vagarosamente em sua direção. Depois pediu-o que parasse, e que se abaixa-se, e que virasse de costas em seguida. Ao que Michael obedeceu prontamente imaginando tratar-se de um exercício que atestasse sua inteligencia humana vívida. Recurso de que felizmente não dispunham os zumbis. E após várias ordens atendidas lhe concedido o direito de abaixar os braços e caminhar normalmente em direção ao Forte. Ele caminhou e de uma distância onde acreditava poder ser ouvido parou. - O que esta fazendo civil, mandei caminhar! Ordenou a voz ao megafone. - Eu preciso saber uma coisa antes! Gritou Michael. - O que fariam se eu tivesse um zumbi no porta-malas? Perguntou corajosamente. - Você disse um zumbi no porta-malas, civil? Identifique-se imediatamente e ajoelhe-se. Nesse momento vários homens com trajes brancos totalmente protegidos, cercaram o rapaz ajoelhado algemando-o, ao que ele tentou reagir gritando que precisava cuidar de sua esposa. Na reação recebeu um golpe na cabeça que o fez desmaiar.

sábado, 19 de junho de 2010

DISSIDENTES DO MUNDO INVISÍVEL

Castro estava quase chegando em casa para o jantar de aniversário da sogra quando o celular tocou, era Luiza. Há muito não fazia ligações fora de hora e acabara de estar com ela na seção de terça-feira. Pela estranheza da situação, apesar de ter um compromisso familiar tão importante, não resistiu, atendeu. Ela chorava muito, entre um soluço e outro pouco pode compreender do que dizia, ouviu algo sobre pesadelos e perseguição e foi o suficiente para trocar de rumo.
Quinze minutos depois Castro já tocava o interfone de Luiza, no terceiro e último andar de um prédio antigo as margens do Rio Sucupi, que naquela época do ano sempre extrapolava seu nível em virtude das fortes e incessantes chuvas, que se agravaram ainda mais de uns anos pra cá. De pé na portaria, aguardando ser atendido lembrou-se do que Luiza sempre dizia quanto a isso “é o aquecimento global, meu amigo” e sorriu com certo pesar por saber que ela estava certa.
O barulho do dispositivo que promovia a abertura da porta o assustou. A moça abriu imediatamente sem perguntar quem era, coisa que não costumava fazer em nenhuma circunstância. Era deveras desconfiada para isso, o que deixou o psicólogo ainda mais preocupado e fê-lo apressar-se até o elevador. Já no andar selecionado, foi surpreendido com a porta que se abria sem que sequer a tocasse, Luiza estava de pé a sua frente com o rosto inchado e o nariz vermelho de tanto chorar.
Ela se virou sem nada dizer, esperando que o amigo a seguisse até a sala de estar. Sentou-se no único sofá - vermelho e de dois lugares- que havia no ambiente, posicionando-se de frente para o puff de couro sintético esperando que ele lá sentasse. Ao fazê-lo perguntou a paciente sobre Atílio, seu namorado. Ela, sem responder, segurou sua mão do médico e soluçando baixo, disse: “está acontecendo de novo, Castro”.

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Na marina de Santa Bárbara, Augusto desatracava o iate de 65 pés quando o Doutor Rômulo Paz chegou. Chamava-o assim por uma questão de hierarquia e conveniência empregatícia, na verdade Rômulo sequer havia concluído o ensino superior. Ao menos assim conquistara a não-antipatia do difícil patrão. Rômulo era um homem imprevisível, de humor instável, podia de uma hora para outra ir do elogio a mais cruel humilhação de seus subalternos. Era um riquíssimo homem de quarenta e dois anos e a origem de sua fortuna não era segredo para ninguém, provinha do Instituto para Estudos da Evolução Espiritual criado pela esposa e o filho, além de outros investimentos na área imobiliária e de mineração. Com os quais ele pouco se envolvia, preferindo dedicar-se a suas verdadeiras paixões: náutica, viagens e o bem viver, de forma irrestrita.
Minutos depois de Rômulo, chegavam a Esposa, Viviane, o único filho do casal, Frederico e mais alguns convidados para visitar a ilha da família Paz na costa sul fluminense. Cerca de vinte pessoas, homens e mulheres da mais alta roda social da região. Augusto, o cuidador do barco, estranhava que um rapazote de treze anos se interessasse da companhia daqueles adultos sisudos. Apesar de saber, pelos quatro anos de serviços dedicados a família que Frederico sempre fora um menino maduro para sua idade. Desde de pequeno usava roupas engomadas, blazer de linho, camisa pólo... Não se recordava de ver o moleque de camiseta ou sujo de sorvete. Mas pelo menos era mais educado que os pais, sempre o cumprimentava e mandava recomendações a família. “Recomendações?” Augusto achava estranho o jeito do menino falar!
Não que Viviane fosse mal educada, geralmente o cumprimentava, mas de forma fria, ou melhor gélida, sempre com ar de superioridade. Era uma bonita mulher de 40 anos. Elegante e discreta trazia o cabelo loiro impecavelmente penteado, quase sempre em coque. Ela e o filho pareciam muito próximos, quase que telepaticamente ligados. Havia momentos em que o olhar de um bastava para que o outro compreendesse seu desejo e tratasse de providenciá-lo. O menino parecia nutrir mais que admiração pela mãe. E a mãe mais que amor pelo filho, uma quase idolatria. O pai, Rômulo era leal e compartilhava dos objetivos da família, mas certamente estava a margem daquela cumplicidade entre mãe e filho.
Todos abordo e servidos de champagne, whisky, vinho branco... Quaisquer bebidas que desejassem, naquele barco eles teriam. Além dos melhores pratos e canapés. Durante a viagem nada falavam além de amenidades, conversar normais para pessoas incomuns, pelo menos era assim que Augusto os via, dado o poder e dinheiro que possuíam. Mas ao ouvir suas conversar chegava quase a crer que se tratavam sim de pessoas normais, com problemas e anseios normais. Somente até chegar a ilha durou tal impressão.
Os dias que se seguiram foram repletos de reuniões a portas fechadas dentro do salão de festas da mansão fortemente protegido por dezenas de seguranças armados. Poucas aparições dos donos da casa e convidados para banhos de sol e almoços a beira da piscina. Dentro do salão não aconteciam festas ou comemorações de nenhum tipo, apesar de o salão possuir isolamento acústico, quando as grandes portas centrais se abriam para dar passagem a um ou outro convidado deixaria escapar som de música, acreditava Augusto. Mas o que se ouvia entre uma breve abertura e outra de porta eram vozes em uníssono, entoando algo que se assemelhava a uma oração, que Augusto ouvia a algumas dezenas de metros dali, da ala dos empregados. O menino Frederico foi visto certa hora da noite, saindo do salão onde se reuniam os ilustres convidados, carregado por um dos seguranças. Estava pálido e quase inconsciente.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

BIONETES CAPÍTULO II

Ricardo paralisou por um instante. Depois correu até onde o doutor Estenio dormia, sacudiu-o, e arrancou-lhe os eletrodos e o Neurotron do corpo. Neste momento o clone desmaiou.
Depois de 37 minutos doutor Estenio, agora em seu verdadeiro corpo, acordou na sala de emergência. Ricardo, pálido, de pé a seu lado, olhava-o sem sessar com assombro.

Três semanas depois...

Felipe disparou a correr quando a porta do elevador se abriu. Aquele era o septuagésimo terceiro andar, e apesar de ser considerado o mais rápido entre os elevadores, subia cada andar em lenta agonia. Não era para menos. Conseguira a seis meses o emprego que almejara durante toda a vida sofrida de filho de piloto de supertrem. E estava três minutos atrasado para uma reunião com o próprio Thing Zuntsu, o todo poderoso, acionista majoritário da grande corporação Biotec. Confiara demasiado no simplório despertador elétrico. Num mundo onde quase todo eltrodoméstico é alimentado com nanopastilhas de urânio que duram pelo menos um ano, Felipe era adepto de artigos retrô e além disto o rádio-relógio, como era chamado, tinha valor sentimental inestimável, pois fora presente do pai. Devia saber que após um noite desbravando o mundo virtual, a base de anfetaminas, seria preciso um superdespertador com megafones acoplados. Era viciado em internet, mais especificamente em redes particulares, mais ainda em invadi-las. Hobby que se tornou vicio após a morte de sua esposa Ana Maria.
E foi com olheiras do tamanho de um supertrem que ele e adentrou com atraso a reunião. Felizmente para ele, havia uma mesa repleta de executivos, mas nenhum chefão. Cumprimentou a todos, tratou de sentar-se e dar grandes goles no copo d'água à sua frente. Quase engasgou quando as portas se abriram num repente, fazendo entrar o Senhor Thing.
Na reunião trataram de custos, valores, lucros, o que basicamente interessa a uma corporação capitalista. Estava na pauta, com destaque o projeto clones, que a muito não apresentava resultados e, representava a cada dia milhares de reais em despesas. E por isso era de vontade do senhor Thing, e dos investidores anônimos, que o projeto sofresse cortes. Essa era apenas uma medida provisória, ponderou o chefe. E antes que doutor Ricardo - que representava o doutor Estenio naquele dia em nome da equipe do projeto – pudesse suspirar aliviado, Thing completou: - E se a pesquisa com clones não mostrar novos e bons resultados em três meses, será paralisada até segunda ordem.
Ricardo teve vontade de se levantar e contar a todos sobre o que havia acontecido no laboratório outro dia, certamente ficariam bem impressionados. Mas impressionados não significava interessados. Sabia que precisava aprofundar-se nas pesquisas, encontrar e apresentar um projeto completo para a utilidade de uma máquina que faz com que um ser humano normal possa animar temporariamente o corpo de um clone! E principalmente paracer no controle do novo projeto, antes que a grande descoberta fosse legada a outro. Então, apenas anunciou que estavam avançando nos testes de uma nova e revolucionária aplicação para o Neurotron. Que em menos de três meses presentariam excelentes resultados. - Que seja assim! - E com essas palavras, senhor Thing encerrou a reunião.
Enquanto os demais deixavam a sala, Ricardo ficou sentado e sua cadeira. Tinha suor no rosto e face pálida. Não fazia idéia do que faria dali em diante, torcia para que uma idéia lhe caisse do céu!
Felipe, atravessando a enorme sala de reuniões, reparou no homem vestido de branco que estava com uma cara nada boa. Ia indo embora, quando ouviu um barulho. Voltou-se para trás e não enxergou mais o o doutor. Deu a volta, para ter acesso ao outro lado da grande mesa, viu-o abaixado catando papéis que havia deixado cair no chão. Aproximou-se para ajudá-lo. Este recusou a principio, mas acabou aceitando a ajuda pois não se sentia bem. Felipe que havia percebido seu mal estado, ajudou-o a se sentar na cadeira e começou a catar os papéis. Viu muitas anotações passando os olhos sobre os documentos. Algumas delas o deixaram curioso. Tratavam de aceleração do Neurotron, dos primeiros passos do clone número 13. E depois várias referencias ao C13, sobre as funções da escrita, os sentidos funcionando em perfeição acima da média humana. Ergueu a cabeça e olhou para Ricardo com olhos espantados. O doutor que tinha a cabeça voltada para cima, como se buscasse ar, tentando recompor-se do mal estar, ao mesmo tempo que percebia estar sendo observando, percebeu que deixara nas mãos de um estranho documentos sigilosos. Mas quando olhou nos olhos de Felipe soube que era tarde demais. Seu segredo havia sido irremediavelmente descoberto.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

BIONETES - Capítulo I

Em um futuro não muito distante uma corporação que faz investimentos em bio tecnologia inicia uma pesquisa secreta com clones. Seu objetivo é criar humanos mais fortes, resistentes a doenças e mais inteligente a partir de clonagem. Para isso utilizavam uma tecnologia denominada neurochips para aumentar a capacidade cerebral, tornando a comunicação entre os neurônios mais ágil e eficiente.
Após anos de experiências, apesar da legislação do país ainda não permitir, os cientistas criaram os primeiros clones humanos. Perfeitos esteticamente, saudáveis, os clones se desenvolviam na clandestinidade. Eram mantidos em ambiente que simulador do útero materno, imersos em substância similar ao líquido amniótico, de onde tiravam os nutrientes necessários a sua sobrevivência.
Porém, apesar de gozarem de excelente saúde, os clones nunca haviam aberto seus olhos! Os cientistas simplesmente não conseguiam animá-los. Viviam numa espécie de coma profundo.
O cientista chefe do laboratório, o senhor Estênio Vaz, detentor de grande experiencia na área de biotecnologia e computação, estava determinado a dar “vida” aos clones e para isso intensificou e expandiu as pesquisas com os neurochips. Resolveu utilizá-los para enviar impulsos nervosos de seres humanos normais diretamente para os neurônios dos clones. Para isso criou uma máquina que conectava uma pessoa normal ao a um clone, e fazia com o primeiro emitisse ao outro pensamentos, sentimentos, estímulos de todo tipo. Chamou esta incrível máquina de Neurotron. E com ela obteve resultados surpreendentes. Verificou que os clones respondiam aos pensamentos das pessoas conectadas a eles através do Neurotron. Quando essas pessoas que emitiam os comandos, chamadas de emissores, tinham pensamentos agradáveis, de alegria, podia-se ver nos clones semblantes alegres, sorrisos! Assim ocorria com os outros pensamentos e sentimentos, quando tristes, os clones tinham lágrimas nos olhos. Até que um deles começou a mexer a cabeça em sinal afirmativo quando assim sugeriu seu emissor. Os resultados foram devidamente registrados e apresentados aos donos da corporação, investidores e um grupo seleto e secreto de interessados que enxergaram grandes possibilidades em tal descoberta. Aquele poderia ser um avanço gigantesco no tratamento de diversas doenças degenerativas. As pesquisas no campo terapêutico, foram então ampliadas. E logo testes estavam sendo feitos em pessoas doentes, pessoas ricas portadoras de doenças terríveis, que já haviam gastado fortunas em tratamentos diversos, estavam obtendo melhoras impressionantes com o Neurotron.
Com isso, com o tempo as pesquisas com os clones foram sendo deixados em segundo plano. E a corporação se interessava cada vez menos pelos clones adormecidos. O único motivo de ainda estarem ali era pela vontade de doutor Estênio. O descobridor do grande avanço da medicina, não abria mão dos clones. Dividia seu tempo entre os dois projetos. De dia doenças degenerativas e à noite os clones.
Uma noite, fazendo testes, conectado ao Neurotron e a um clone, em sua poltrona acabou adormecendo. Horas depois acordou, sentindo faltar-lhe o ar, sem abir olhos levantou num sobressalto e sentiu a cabeça bater fortemente em algo que lembrava vidro. Quis gritar de dor mas quando abriu a boca esta se encheu de um líquido viscoso. Abriu os olhos e viu que se encontrava submerso neste líquido. Desesperou-se, não podia mais segurar a respiração e inspirou o líquido pelo nariz. Teve a certeza de afogar-se mas não! O líquido preencheu- lhe o corpo e os pulmões como o ar. Uma sensação assustadora mas não totalmente nova, pois sabia o que era a tal substância. Já havia realizado testes com ela, era a mesma onde eram mantidos adormecidos os clones. Também era usada por mergulhadores de grandes profundidas para que suportem a pressão do fundo do mar, onde com cilindros estourariam se chegassem. O Doutor achou que estava sonhando, esforçou-se para acordar daquele sonho desagradável. Ele ali preso, nu, exatamente como um de seus clones. Colocou as mãos na cúpula que o envolvia e forço-a para que se rompesse e o libertasse. Reparou nas mãos em frente aos olhos, as mãos que usava para forçar o vidro, aquelas, apesar de senti-las e comandá-las, não eras as mãos dele! Olhou para baixo e também não reconheceu o corpo que ali estava. Ou melhor, não o reconheceu como dele, mas como sendo o corpo do clone conectado a si, através no Neurotron, naquela noite. Olhou para fora para ver se via alguém que pudesse ajudá-lo e viu um senhor grisalho, com algo metálico em sua cabeça. Este senhor dormia em sua poltrona e vestia suas roupas.

Quando Ricardo, cientista auxiliar do Doutor Estenio, entrou no laboratório quase teve um desmaio ao ver um o clone se debatendo, com os olhos arregalados, tentando gritar dentro da cúpula de testes. Viu o doutor Estenio dormindo, quis acordá-lo, gritou por ele enquanto se dirigia a cúpula, mas este não lhe atendeu. Ricardo correu para o computador e acionou o comando que abria a cúpula. O clone escorregou para fora dela. O jovem cientista aproximou-se do espécime nu que se debatia sobre a mesa, e o envolveu em uma toalha. Ia buscar um medicamento para acalmá-lo, quando ouviu de sua boca pálida e murcha, entre tosses, os primeiros sons. Balbucias, monossílabos e depois as palavras: - Ricardo, me ajuda! Sou eu, Estenio. Me acorda!

domingo, 6 de junho de 2010

Dissidentes do Mundo Invísivel



O Livro dos Médiuns: “Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela da mesma maneira em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações”.

Esta definição, fornecida pelo Codificador, nos parece a mais completa e abrangente.

Entendamos, porém, que a faculdade mediúnica, por si só, não libera o homem das influências das trevas. A faculdade, na realidade, é neutra, agora, o uso que o homem faz dela é outra questão. Diante disso, concluímos que no emprego da faculdade mediúnica podemos nos harmonizar com os bons quanto com os maus Espíritos. Nesse sentido, mediunidade é sintonia.
Trecho retirado do site da Revista Espírita-Cristã do Terceiro Milênio
http://www.omensageiro.com.br/cursos/csde/122.htm

BIONETES



IMAGINE UM MUNDO ONDE HUMANOS VESTEM HUMANOS.
UM CORPO, UMA FANTASIA, UM DISFARCE.
TODO DIA PODE SER O SEU CARNAVAL!
VOCÊ PODE TUDO! SER, FAZER O QUE QUISER!
COM UM CORPO PERFEITO! JOVEM E BELO...
IMAGINE!

BIONETES

Ou marionetes humanas, é a série BIOPUNK, com capítulos semanais, que figurará neste Blog em breve.
Haverá também uma série de Terror de nome "Dissidentes do mundo invisível". Onde um grupo de espíritos maquiavélicos, para fugir das leis divinas de evolução a partir das várias encaranações e consequentes experiências, elabora uma plano terrível para retornar vida terrena e desfrutar de seus prazes mundanos, materialistas...
E, se eu der conta, uma versão para a continuação do filme "Residente Evil". Super sinistra!
Podem vir pela frente ainda mais histórias inusitadas. Já estou gestando uma comédia sobre uma moça que mora numa república para moças. Autobiográfico sim. E divertido também! Afinal nesses lugares se conhece cada figura ( e se passa por cada sufoco!).
Antigamente haviam as foto novelas, as rádionovelas, inauguro agora (ou não!) as blogseries. Séries dividídas em capítulos, postados semanalmente no Blog.
A idéia original era escrever um livro, mas como não consegui (ainda), não vou por isso privar as pessoas de se divertirem com as histórias vindas dessa minha cabecinha criativa e desvairada!
Espero que gostem!

Betathi
Contato: betathi@hotmail.com