Liz admirava, da sacada, o céu naquela noite singular. Haviam tons de violeta, verdes e cintilantes, com prevalência do fundo preto muito escuro. Podia vê-los dançar algumas vezes, e ria-se sozinha por achar-se infantil e fantasiosa demais.
É a aurora boreal! Disse Michael a abraçando ternamente pelas costas.
Liz repuxou os olhos como se tentasse trazer a tona a memória do significado daquela palavra. Sabia que que a ouvira antes. Michael a ajudou, dentro de seu limitado conhecimento sobre assunto. - É um fenômeno da natureza. O nome foi dado em homenagem à Áurea, a Deusa grega do amanhecer e Bóreas, seu filho, o vento do sul. Liz, aconchegou-se mais para perto do esposo e recostou a cabeça em seu ombro, enquanto admirava o fenômeno. E Michael sentindo-se forte e protetor por orientar a amada, continuou. - Sabia que só pode ser observado dessa parte do planeta? Lembro de ter aprendido na escola que tem haver com vento solar, porque o oxigênio... - Michael, me deixe só admirar! Liz sorriu docemente dando um beijo que calou o pretenso professor. Ficaram ali abraçados por alguns segundo até o soar do alarme de trabalho das dezesseis horas os chamar às obrigações. Olharam-se com resignação, e conformados seguiram para dentro do pequeno apartamento adquirido a pouco tempo e a base de muito sacrifício.
Liz podia não se recordar – e Michael pensava que talvez fosse melhor assim – que antes da terrível praga estavam prestes a possuir um espaçoso e luxuoso triplex no centro de Nova York. A custa de muito trabalho também, ele como médico cirurgião e ela como advogada. Apesar de suas situações terem mudado muito, ele não se atrevia a reclamar, dava graças por ainda estarem vivos, juntos e terem um lugar para chamar de lar.
Coisa que muios havia perdido. Seus lares, seus companheiros, suas famílias, suas vidas. Por um momento, que Michael não se agrada de rememorar, quase perdeu Liz. Ela estava perdida para muitos, mas ele não desistiu dela. Mesmo doente, mesmo transformada pelo vírus que devastou a maior parte dos seres vivos do Planeta, transformando-os em monstros famintos. Ele a manteve presa e conteve seus instintos canibais por meio de amarras e anestésicos fortíssimos pois tinha fé numa cura. E atravessou o continente em busca de um lugar, considerado por alguns uma lenda. Uma comunidade no Alaska que havia se levantado após a catástrofe … Onde pessoas podiam viver em paz livres da doença. E os que haviam sido por ela atingidos encontraram uma cura. Um antídoto, que diziam os boatos, adormecia o monstro e acordava a parte humana da vítima. Para os que haviam sucumbido e involuntariamente se alimentado de carne humana a cura era mais complexa. Demandava mais tempo e recursos e não podia se garantir a recuperação completa. Variava de organismo para organismo. Um dos bem sucedidos processos de retorno ao comportamento humano normal foi o do próprio cientista responsável pelo desenvolvimento da cura. Foi ele quem obteve os primeiros resultados positivos com cobaias humanas. Até ter seu laboratório invadido por uma horda descontrolada de zumbis. Foi afetado e até ser resgatado cometeu muitas atrocidades. Foi perdoado devido ao seu estado. Os que o encontraram, um aequipe enviada pela corporação que custeava suas pesquisas científicas, recuperaram também suas anotações, substâncias e documentos. E graças a isso um time de cientistas pode, partir dos métodos científicos do doutor Normam, chegara cura como hoje se conhece. Ele foi um dos primeiros agraciados e restabeleceu-se em questão de meses, num processo complicado, mas por fim, bem sucedido. Doutor Normam estava de volta, era humano outra vez, e trabalhava para aprimorar o antídoto como chefe do mais importante laborário da Colmeia IV.
Apesar de ser a maior descoberta desde a praga mundial e ter salvado e recuperado milhares de vidas era ainda uma opção temporária. Seu efeito funcionava bem por três meses, variando de acordo com a gravidade, o tempo como zumbi e a quantidade de carne humana consumida. Era preciso injetar novas doses com freqüência, ou corpo a consumiria ou, em alguns casos combateria, e depois disso o estado animalesco podia ressurgir, aniquilando o humano.
A comunidade que Michael encontrara após dois anos de viagem e muitos perigos, levando consigo a noiva contaminada. Era a mais organizada que vira desde a muito tempo, mais estava longe de assemelhar-se a uma sociedade humana normal. Pareciam todos ter voltado a era medieval.
Logo na entrada muralhas gigantescas lhe impediam a passagem. Foi preciso muito tato e sutileza para se aproximar delas. O esquema da segurança era forte. Vinte quilômetros antes de alcançar as muralhas foi recepcionado por robôs que mais pareciam discos voadores que lhe inspecionaram através de raios-x, provavelmente procurando algum traço de ameaça zumbi. Passara pelo primeiro obstáculo com muito receio, pois sabia que se fosse descoberto trazendo consigo uma zumbi seria exterminado. Mas o medo não o fez reclinar. Seguiu a diante. E no posto cinco, um Forte onde se encontravam soldados pesadamente armados, teve seu primeiro contato com humanos sadios após longo período. Do alto de uma plataforma o homem que devia ser o comandante daquela instalação disse ao megafone que saísse do veículo, com as mãos para o alto e andasse vagarosamente em sua direção. Depois pediu-o que parasse, e que se abaixa-se, e que virasse de costas em seguida. Ao que Michael obedeceu prontamente imaginando tratar-se de um exercício que atestasse sua inteligencia humana vívida. Recurso de que felizmente não dispunham os zumbis. E após várias ordens atendidas lhe concedido o direito de abaixar os braços e caminhar normalmente em direção ao Forte. Ele caminhou e de uma distância onde acreditava poder ser ouvido parou. - O que esta fazendo civil, mandei caminhar! Ordenou a voz ao megafone. - Eu preciso saber uma coisa antes! Gritou Michael. - O que fariam se eu tivesse um zumbi no porta-malas? Perguntou corajosamente. - Você disse um zumbi no porta-malas, civil? Identifique-se imediatamente e ajoelhe-se. Nesse momento vários homens com trajes brancos totalmente protegidos, cercaram o rapaz ajoelhado algemando-o, ao que ele tentou reagir gritando que precisava cuidar de sua esposa. Na reação recebeu um golpe na cabeça que o fez desmaiar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário